O que é a Pratique Movimento? É luta? É dança? É circo? É pilates? Não é nada disso ou é tudo isso também? Neste episódio falaremos de Walk the walk e de lesões. INSTAGRAM
Pratique Movimento
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Bom dia ou boa tarde ou boa noite, eu sou o Rodrigo Salulima, professor e fundador aqui da escola Pratique Movimento e as pessoas vivem perguntando o que a gente é. "Vocês são dança? Vocês são luta? Vocês são" "circo? Vocês são Pilates? Vocês são CrossFit? Vocês são Fitness?" Será que a gente não é nada disso ou a gente é tudo isso também?
Fala alunos, ouvintes e curiosos, vamos começar mais um episódio aqui do nosso podcast tentando responder aquela pergunta do início. Se a gente não é nada disso, nada de luta, de dança, de circo, de Pilates, de yoga, do que for, ou se a gente é tudo isso também. Essa é uma pergunta que eu já fiz muito e durante muito tempo eu tinha feito uma escolha. A escolha era: ao invés de tentar explicar o que a gente era, a gente usou uma tática, uma tática conhecida, uma tática que pode sim ser utilizada. De dizer o que a gente não é. Então, nós não somos parkour, por exemplo, nós não somos dança, nós não somos capoeira. É válido, sim, é uma estratégia válida e às vezes ajuda a elucidar alguns pontos, pois as pessoas já conseguem se relacionar com alguma dessas atividades e, pelo menos, elas já sabem o que não somos. Mas, de um tempo para cá, até pela provocação de um grande amigo e aluno meu, ele falou "Você pode falar isso, sim, mas pelos meu anos aqui" "praticando, eu vejo que a gente não é isso tudo, só que a gente é isso tudo" "também." E aí eu comecei a mudar um pouquinho a minha mentalidade.
Eu comecei a perceber disso que não somos estava um pouquinho mais relacionado à escassez, à separação, e somos tudo isso também estava um pouquinho mais relacionado à abundância, à integração. Então, eu acho que, sim, nós somos tudo isso, somos tudo isso também mas nós não nos limitamos a isso. Isso cai um pouco naquele conceito de transdisciplinaridade, de uma coisa que se transborda, que não é nem um, nem outro, mas ele é o terceiro, é uma terceira entidade que se forma. Apesar de sermos tudo isso, nós não utilizamos essas modalidades, essas disciplinas, esses conceitos e princípios dela de uma forma aleatória ou isolada. A gente não simplesmente escolhe "Ah, legal, vamos pegar" "aquela pequena parte do mundo da dança contemporânea ou das danças" "urbanas, da dança de rua, e vamos botar aqui na nossa aula desse jeito" "para que os alunos tenham apenas uma experiência e não façam nada" "com isso." Ou então "Vamos pegar aquele footwork, aquele jogo de perna" "que é usado no mundo da luta e que traz agilidade, velocidade de reação" "e a gente vai botar aqui nas nossas aulas simplesmente para a galera sentir" "um gostinho." Não, não é isso. A gente passa por várias experiências aqui e experiências são válidas. Passar por experiências, vivenciá-las no nosso próprio corpo é algo muito bom, mas a gente não se limita a isso, a gente não quer apenas fornecer experiências.
A gente quer fornecer ferramentas, ferramentas para que? Para que a gente se conecte mais com o nosso corpo, para que a gente adquira uma qualidade de movimento maior. Então, eu costumo dizer que a gente trabalha com uma sub-base, a gente trabalha com a essência, com algo das disciplinas que quem está olhando de fora não vê diretamente nessas disciplinas, mas uns princípios, a essência dela. E a gente começa abaixo dessas disciplinas e eu posso citar infinitas aqui, capoeira, dança, luta, o parkour, circo, o Fitness. Existe esse mundo aqui debaixo com alguns princípios, uma essência ali por trás e eu tento sempre pensar, filosofar, quando eu digo eu, eu digo eu a escola Pratique Movimento, eu, os professores, os alunos, os meus colegas que praticam movimento ao redor do mundo. Vivo me comunicando com outros professores também. A gente tenta conectar esses pontos dessas disciplinas e buscar integrações entre elas. A gente busca mapear e começar a rabiscar, fazer pequenas anotações de onde a gente está, de como que a gente conecta uma coisa com a outra e, ao longo do tempo, a gente começa a diminuir o espaço, a distância entre essas disciplinas isoladas. Então, por mais que talvez no início você não consiga conectar algo do mundo da dança, algo mais expressivo com algo do mundo da luta que a gente faz aqui, ao longo do tempo, a nossa missão e o que vem se provando, que está acontecendo por mim mesmo, pelos meus alunos, por relatos, é que esses pontos começam a ficar mais claros e a gente começa a se movimentar melhor de um modo mais global, a gente começa a praticar o movimento no singular. O que é praticar o movimento no singular? E daí, eu vou me valer da explicação de um dos meus grandes professores, Ido Portal. Existe uma grande diferença entre praticar movimentos e praticar movimento. Então, algumas pessoas confundem isso e elas praticam diversos movimentos, o que não há nada de errado com isso, que fique bem claro. Não existe maneira correta de viver a vida, de encarar sua fisicalidade, sua corporeidade. Então, você pode praticar vários movimentos, você pode fazer aula de dança às terças e quintas, você pode jogar sua bola no final de semana, fazer uma aula de luta, puxar o seu ferro na academia, na musculação, você está praticando vários movimentos, mas se você não se esforçar para conectar esses pontos, vão ser movimentos e talvez você nunca enxergue, você nunca consiga fazer com que haja transferência, pelo menos não de modo consciente, entre uma dessas atividades e outra. Já aqui, a gente pratica movimento como um todo, é um grande guarda-chuva que engloba todas essas coisas e o nosso objetivo com isso é fazer com que a gente se movimente melhor, entenda o mundo do movimento de uma maneira mais global. Então, não é incomum alguns alunos aqui darem um relato, por exemplo, "Nossa Rodrigo, desde" "que eu entrei na Pratique Movimento, eu estava há quatro, cinco anos sem" "jogar basquete," por exemplo "e eu viajei, fui para casa da minha família," "meus amigos antigos me chamaram para uma partida de basquete, eu fui" "jogar e, impressionantemente, eu joguei muito melhor do que eu jogava," "eu não me machuquei, eu não senti dor no corpo." Teve um aluno aqui, inclusive, que pratica kitesurf e ele falou assim "Rodrigo, geralmente eu tinha" "que sair da água com uma hora, uma hora e meia porque eu sentia minha" "lombar gritando, pegando fogo, lesionando, me pedindo para parar, me" "forçando a parar. Depois de estar aqui há um ano e meio..." Não lembro ao certo a data que ele me falou "Eu fui para o Ceará esse verão, eu juro para" "você que eu passei três horas fazendo kitesurf, zerado no outro dia, não" "senti nada." Isso para mim é um grande subproduto também, essa capacidade de encarar outras atividades, de se jogar em atividades diferentes, de viajar de férias e poder brincar, brincar com seu primo, seu neto, seu filho, seu sobrinho e fazer alguma aventura, fazer uma trilha e não sentir o joelho doendo no outro dia, poder jogar uma bola e não está toda hora preocupado se vai torcer o pé ou não, ter uma condição cardiorrespiratória também. Então são vários subprodutos dessa prática de movimento. São transferíveis para outros movimentos, para outras disciplinas, o que não quer dizer que o contrário vai ser sempre verdadeiro. Por exemplo, e eu vou ficar refletindo um pouco com vocês sobre isso nesse episódio de hoje. Esse episódio, na verdade, vai ser uma grande reflexão sobre isso.
Lembrando que não são ideias fixas, eu não cheguei a lugar nenhum em termos de conclusão mas a gente vai continuar filosofando sobre isso hoje e sempre e, provavelmente, a gente vai fazer cada vez mais perguntas melhores. Às vezes, as pessoas perguntam se a gente faz parte da indústria Fitness. O que é o Fitness? Eu acho importante a gente ir um pouquinho na raiz da palavra. Fit tem mais a ver com sobrevivência, com estar adaptado do que com estética, que foi o que acabou se tornando, não sei se acabou se tornando mas é com que as pessoas mais relacionam hoje em dia. Então, 'the survival of the fittest' né, a sobrevivência do mais fit, tem a ver com exatamente essa palavra, sobrevivência, a estar adaptado para lidar com diferentes situações. Então, se o Fitness está dentro da Pratique Movimento, com certeza absoluta, nesse sentido, no sentido de estar mais adaptado para lidar com diferentes situações. Agora, no sentido de uma cultura voltada extremamente e somente para estética, podendo causar até alguns malefícios, alguns distúrbios de personalidade, de social, a gente tenta minimizar isso aqui. Lógico que é uma força só que está nadando contra a corrente da força da normose né, usando o termo que ouvi pela primeira vez do Roberto Crema, que a normose é a patologia da normalidade. Tem as neuroses mas tem as normoses também, é a gente achar que tudo isso que a gente está vivendo é normal e normalizar mesmo situações que não estão fazendo o bem. Então, em termos da estética que eu estava falando, fazendo um gancho aqui e vamos voltar. Falando da estética "Ah, mas aí na Pratique Movimento vocês não ligam para estética?" Depende, a Pratique Movimento é formada de diversas pessoas e é muito difícil falar que a gente não liga para estética. Todo mundo... É importante também você se sentir bem com você mesmo, se isso partir de uma coisa mais interna né, não partir de um julgamento externo, de pressões externas. E sim, a estética vai vir aqui, mas ela não vai vir como um fim, ela não é o fim principal, ela é um subproduto por estar praticando o movimento todos os dias, cultivando bons hábitos, se relacionando bem com pessoas legais, com boas pessoas, pessoas de ética, de caráter, estar inserido em um ambiente saudável, começar a falar mais sobre alimentação, sobre que tipo de relacionamento você tem, quantas horas por dia você dorme, buscar hábitos saudáveis, a estética vai vir mas ela não vai vir com aquele peso, com aquela pressão externa, ela vai vir como um subproduto de estar vivendo uma vida com bons valores, que vale a pena ser vivida, que vale a pena ser cultivada. Eu acho importante também a gente falar sobre a simplicidade de se movimentar, de viver em um corpo, de estar mais conectado com isso. É simples, mas ser simples não quer dizer que é fácil e que não tem um processo por trás nem que, às vezes, a gente não precise de ajuda, de ferramentas, de uma pesquisa, de uma alto pesquisa mesmo, você olhar para você, você buscar fora e procurar maneiras de fazer isso de uma melhor forma. E tem uma frase que as pessoas costumam dizer no mundo de hoje que é uma frase legal, ela é motivacional mas como sempre ela reduz muito algo complexo, que é o 'just move' né, só se mova cara, vai lá, só faz alguma coisa. Beleza, só fazer alguma coisa é melhor do que nada, mas qualquer coisa também é melhor do que nada, então se você puder buscar ferramentas, buscar atividades, buscar ambientes que têm um processo por trás que vai te ajudar a manter uma coesão nessa sua busca, pode ser que ajude. Então, alguns dançarinos, por exemplo, dançaram a vida inteira, improvisaram a vida inteira, sempre foram muito conectados com isso e, às vezes, na hora de passar esse conhecimento, eles não conseguem ter um recipiente suficiente para passar isso de uma maneira legal sem vazar né, de uma maneira que seja responsável, que faça sentido, que tem um processo por trás. Então, às vezes, ele dança muito bem e ele aprendeu 'just dancing', apenas dançando, mas para a maioria das pessoas, pelo menos a maioria das pessoas que procuram nossa escola aqui, elas precisam de um processo ou elas nunca tiveram essa vivência, elas vão ter que começar o seu processo. Então, a gente trabalha, sim, ferramentas da dança aqui. Eu nem gosto de chamar de dança, eu gosto de chamar de ferramentas do mundo expressivo como um todo. Então, a gente se expressa, o corpo é uma ferramenta de expressão e nós não vamos nos tornar dançarinos profissionais, a não ser que seja um interesse muito peculiar, particular de algum aluno aqui. Legal, faço Pratique Movimento e eu sou dançarino de danças urbanas, igual nós temos vários aqui, eu tenho as minhas apresentações de dança contemporânea que eu faço aqui, mas o objetivo principal não é, a gente não ensina dança. Para ensinar dança, existem outros ótimos profissionais no mercado aí. Então, se você está em busca de se especializar na dança, busque um profissional bom de dança, um professor de dança. Mas o 'just dance' é bom para o espírito, é bom para o seu social, é bom para sua cabeça, mas talvez para você se desenvolver, você precise de um processo por trás e aqui a gente tenta quebrar em pedacinhos menores e ensinar isso e ter essas vivências.
Outra coisa que acontece muito que pode ser uma confusão na cabeça das pessoas, a gente vive no mundo de vídeos né, de vídeos virais ainda, aqueles vídeos que viralizam. E, às vezes, são esses que fazem sucesso. E, por exemplo, às vezes faz mais sucesso e as pessoas vão achar mais incrível um vídeo de algum jogador de futebol de rua, eles têm um nome para isso em inglês, 'trickster' né, que fazem 'tricks', que fazem truques, fazem malabarismos, fazem essas apresentações mesmo assim na rua. São muito mais incríveis, às vezes, do que acontece em um jogo de futebol, mas você treinar apenas esses truques não vai fazer com que você seja muito bom em um jogo de futebol, mas talvez para um jogador de futebol, um especialista, botar, adicionar na sua prática alguns truques, alguns 'tricks' desses, ele, sim, consegue deixar transferível para lá. Mesma coisa com artes marciais tradicionais, são ótimas, eu respeito muito, eu aprendo muito, está dentro do que a gente ensina aqui na Pratique sabe, é um tai chi chuan, um kung fu tradicional. Porém, têm muitas pessoas, hoje em dia, dizendo que essas artes seriam suficientes e até mais potentes em uma luta real, uma luta comum. E aí vem uma batalha na internet que não vem ao caso a gente ficar falando muito sobre isso aqui, chamando esses caras para lutar com lutadores profissionais, a maioria das vezes é um grande vexame, porque, sim, se os lutadores profissionais estão todo dia ali na realidade se testando, a gente não pode pensar que a gente fazer os katas, as sequências, vão ser totalmente transferíveis se você nunca estivesse testando. Dito isso, para um lutador profissional que está no MMA, no UFC, talvez adicionar a sua prática alguns valores, algumas ferramentas das artes marciais tradicionais seria extremamente potente. Mais um exemplo desses vídeos virais e que talvez vai ajudar vocês que estão ouvindo, nossos alunos, curiosos, pessoas que caíram aqui de paraquedas a entender um pouquinho mais. Parkour foi uma das últimas grandes culturas físicas que surgiram. Eu acho, e aí eu posso estar um pouquinho contaminado pelas minhas próprias vontades, que a próxima grande cultura física que vai surgir é a cultura do movimento. Eu acho que somos os próximos. O parkour é uma cultura física moderna que surgiu a pouquíssimo tempo e que, hoje em dia, o que faz mais sucesso no parkour na internet são aqueles vídeos virais de coisas incríveis, de pessoas arriscando suas vidas. Mas eu vejo muita pouca coisa, muito pouco material bom e quando eu vejo, eles têm pouquíssimas visualizações, eu mostro para algumas pessoas e elas não conseguem achar um valor ali dentro porque o que está mostrando são coisas que estão muito fora da realidade, estão muito incríveis e, às vezes, isso até afasta as pessoas. Elas falam "Não, essa atividade não é para mim."
E eu estou mais interessado em ver praticantes de parkour com uma longevidade. Tem um americano chamado Rafe Kelley, ele tem um... Acho que ele chama de 'Evolve Move Play', a sua perspectiva de encarar. E ele é uma pessoa que já tem uma idade mais madura e ele está fazendo coisas incríveis, mas talvez não tão incríveis quanto aqueles vídeos virais que, sabe, parecem uma coisa de outro mundo, mas para mim, com aquilo eu consigo sentir uma empatia cinestésica né. Os meus neurônios-espelhos... O que é empatia cinestésica? Apertando a tecla SAP aí para gente. Empatia cinestésica é quando eu vejo algum movimento acontecer e meus neurônios espelho se ativam e eu falo "Caramba, eu quero me mover assim." Ou então, eu reconheço esse movimento. A gente pode ter empatia cinestésica por qualquer coisa, por um dançarino. Às vezes, os alunos aqui nunca se interessaram por dança até começar a mexer a coluna aqui na nossa escola de formas diferentes, ver uma apresentação e ver a outra pessoa mexendo a coluna de uma forma incrível e falar "Caramba, que massa adquirir a sensibilidade para" "gostar daquilo." Ou ver um lagarto andando pelo chão e antes era só um lagarto. Agora, você presta atenção em como esse lagarto se move e aí você sente essa empatia cinestésica. Então, eu dei o exemplo do Rafe Kelley que é um cara que eu sinto empatia cinestésica, eu olho para ele e falo "Eu quero" "chegar lá assim também, eu quero fazer esses movimentos." Está um pouquinho próximo da minha realidade também. E aí, aonde está a cultura do movimento nisso tudo, nessas distorções, nessas pequenas distorções, nesses vídeos virais? Eu acho que a gente tem que tomar muito cuidado para não cair nisso. Para não começar a partilhar apenas as coisas extremamente incríveis e difíceis de se fazer, mas mostrar o processo por trás também, mostrar como a gente chegou até lá, mostrar pessoas comuns no dia-a-dia. Porque a gente vive uma época de mentira né, é uma época da mentira, a gente está... O que está sendo viralizado são mentiras. O que é mentira? Eu lembro que um professor meu falou isso para mim uma vez "Mentira é quando eu sei, você não sabe. "O que é o conto, a fábula? É quando eu e você não sabemos mas a gente se diverte com a história, mas a gente sabe que ela não é verdade. O que é a pegadinha? É quando todo mundo na sala sabe menos você. Eu acho que a gente tem que tomar cuidado, a gente tem que mostrar um pouquinho mais a verdade. Eu estou tentando aqui como o professor fundador da Pratique Movimento mostrar um pouco mais da verdade, tentar fazer com que as pessoas comuns do dia-a-dia se relacionem um pouco mais com essa prática de movimento, sintam essa empatia cinestésica e comecem a se despertar, a se abrir para prática de movimento, porque, como eu já disse no primeiro episódio, a melhor época para começar a praticar movimento era trinta anos atrás, vinte anos atrás. A segunda melhor época para começar a praticar movimento é agora, neste momento. Tem um assunto que eu acho muito interessante que é sobre os benefícios e a transferência dessa prática de movimento.
Às vezes, algumas pessoas podem olhar de fora e falar "Caramba, tá, mas com o que fazer essas movimentações pelo chão que" "vocês estão fazendo aí vai me ajudar?" Eu fico até brincando, tem um movimento que a gente faz aqui que chama L-sit rotacional. É um movimento pelo chão, você vai se aproximar bastante, vai agachar e, às vezes, eu falo, eu falei para meus alunos um dia numa aula "Não é que" "você vai sair da aula e vai ao supermercado e aquela caixa de suco vai" "estar lá naquela prateleira mais próxima do chão e você vai descer, vai fazer" "um L-sit rotacional, vai pegar a caixa e vai levantar estilosamente, não." "Mas naquele mesmo dia na manhã, você aprendeu um movimento, você" "aprendeu a entrar e sair do chão e isso te empoderou, isso fez com que" "você se conectasse um pouquinho mais com seu corpo, com as" "possibilidades dele e você agachou e levantou para pegar aquela caixa de" "leite de um modo normal mas com um pouquinho mais de" "consciência sobre o modo como você agachou e levantou. E feliz que você" "não sentiu dor, não sentiu nenhuma limitação." Em termos de coordenação também, a minha irmã mesmo me deu um exemplo recentemente que ela costumava andar se batendo nos lugares, batia, torcia o pé, caia. Ela falou aqui que está há anos sem se machucar e isso é uma grande vitória para ela. Com certeza, por causa dessa conexão maior com corpo, esse aumento da sua coordenação de um modo global, que eu falo, porque coordenação é um nome muito amplo, a gente pode até falar nisso em um episódio futuro, existem várias portas da coordenação, vários aspectos de coordenação. Mas talvez trabalhar aqui frequentemente coordenação olho-mão, por exemplo, trabalhar a visão periférica, trabalhar multitarefa, isso é totalmente transferível para o dia-a-dia.
São coisas que vão fazer você ter uma qualidade de vida e uma longevidade, uma sustentabilidade maior. Eu costumo dar um exemplo muito grande, um exemplo muito comum que é a relação com os bebês, com as crianças, com os filhos. Qual é o ambiente de um bebê de quatro anos, três anos, dois anos, um ano? Três, quatro anos já está andando né, já olhou para um lado, quando olhou para o outro, ele já está ali na beira do precipício e você tem que sair correndo para pegar. Mas um, dois anos, o ambiente dele é o chão, é o ambiente que ele está à vontade, que ele quer ficar, que ele está se desenvolvendo, que ele está mexendo a coluna, que ele está aprendendo a rolar, que ele está tentando alcançar objetos e o que os adultos costumam fazer? Costumam tirar o bebê do seu ambiente que é o chão e trazer para o ambiente dos adultos, que não deveria ser apenas esse ambiente, que é o sofá, é um ambiente mais alto, você bota no colo, ao invés do adulto entrar no ambiente da criança, interagir um pouco mais com ela no chão, porque ele perdeu isso, porque ele perdeu esse contato com o chão. Então, o contato com o chão, que usando um pouco da luta, da luta agarrada de grappling, jiu-jitsu, usando um pouquinho da dança, da dança contemporânea, do parkour, dos rolamentos no chão, da capoeira que tem um contato com o chão, entra e sai do chão muito bonito, usando tudo isso que a gente agregou em uma prática só, em um recipiente só, a gente consegue resgatar e ensinar adultos que já perderam isso a se comunicar melhor com o chão, interagir melhor com o chão, seja com filho, com cachorro ou com você mesmo, ou consertar algo pelo chão.
Ou seja, é transferível demais. Moshé Feldenkrais, que é um dos pais do movimento, costuma dizer que o problema foi que a gente se levou a sério demais, é algo nesse sentido, não são as palavras dele, eu vou provavelmente rasurar tudo que ele disse mas a mensagem principal vai ser passada com certeza. Ele costuma dizer que os adultos começaram a ficar sérios demais para pular. "Não, já estou sério demais, já estou velho demais" "para pular. Não, já estou sério demais para rolar pelo chão, não não, eu não" "sirvo mais para ficar correndo atrás de uma bolinha de tênis." E aí você perde porque você escolheu ser sério demais. Então, a gente para de brincar porque envelhece ou a gente envelhece porque para de brincar? Tem um cara chamado Stephen Jepson nos Estados Unidos, o jargão dele, o slogan dele é 'never leave the playground' né, nunca deixe o parquinho de diversões, e uma vez em um workshop com ele, ele falou, ele contou uma história muito interessante. Ele falou que quando ele era criança, ele ia fazer sauna com o pai dele junto com os amigos e ele era uma das únicas crianças que ia lá fazer a sauna. Ao final, todos os adultos iam se vestir e ele começou a reparar que todos os adultos se sentavam para botar o sapato, para botar o chinelo, para botar o seu calçado ao final e ele era o único que ficava em pé, se equilibrando em uma perna só e botava o seu tênis. Naquele dia, ele pensou "Então, quer dizer que quando eu começar a botar o tênis sentado" "eu vou ficar velho?" Naquele dia, ele tomou a decisão "Nunca mais eu vou" "botar o tênis sentado." E ele com 72 ou 73 anos se eu não me engano, dando workshop para gente, ele mostrou ele tirando e botando tênis em pé sem se desequilibrar. A gente trabalha aqui na escola Pratique Movimento com alguns pilares. Eu não vou falar sobre todos eles, mas é legal a gente dizer, falar alguns, por exemplo, o pilar expressivo que eu já citei aqui mais cedo no episódio.
É onde a dança está inserida. Tem um outro pilar muito importante que é o pilar somático, de práticas somáticas, práticas mais internas. Às vezes, as pessoas me perguntam "Ah, você pratica yoga lá" "na Pratique Movimento, você ensina yoga?" E aí, se fosse antigamente, eu falava "Não, nós não somos yoga." Hoje em dia, acho que faz muito mais sentido "Somos yoga também." Eu me considero um yogi, eu me considero um yogi aluno, um praticante, um aprendiz bem no início da minha caminhada e várias vezes aqui eu partilho um pouquinho da minha caminhada com os alunos que também estão caminhando comigo nessa jornada, uns mais à frente, outros mais atrás, outros lado a lado, e a gente vai partilhando isso. Então, esse pilar da prática interna, eu gostaria de falar sobre ele um pouquinho aqui porque para mim ele é uma cola, ele une. A cola foi feita para unir duas coisas, duas ou mais coisas. Então, ele une todos os outros pilares em uma coisa só. Outro dia estavam me perguntando qual o maior benefício da prática interna, da meditação. Eu acho o seguinte. Não deveria ter um benefício só, não deveria ser algo místico que as pessoas dizem aonde a gente vai chegar, a gente não vai chegar a lugar nenhum. Talvez chegue, mas eu, nesse momento da minha caminhada, não sinto que eu vou chegar em lugar nenhum. Porém, por parar e ficar sentado, isso faz com que eu me mantenha muito mais atento a situações que ocorrem no meu dia-a-dia. Então, cinco minutos que seja, dez, quinze, vinte minutos por dia a gente parar e prestar atenção no que está acontecendo deixa o cérebro muito mais ligado para no meio do furacão, no meio daquela situação estressante, você fala "Opa, pera, deixa eu olhar, prestar atenção" "aqui no que está acontecendo." E você dá uma respirada. Às vezes, só o que você precisa é isso, uma respiração. O Dudi, que é o meu professor dessa prática interna, uma vez a gente ficou muito, muito tempo sentado com ele na prática interna. A gente gosta de falar ficar sentado, parado e não meditando porque meditar é onde a gente quer chegar e, várias vezes, a gente só fica parado. E alguém perguntou o tempo "A gente ficou quanto" "tempo, Dudi?" Aí ele falou "Não sei, eu gosto de pensar que foi o tempo de" "uma respiração." Então, o tempo de uma respiração, às vezes, é o suficiente para gente parar.
Eu estou falando tudo isso sobre prática interna porque, às vezes, as pessoas perguntam "Mas como que você vai encaixar isso" "aqui na prática de movimento, na escola Pratique Movimento?" A gente encaixa isso da forma mais simples possível, simplesmente sugerindo que as pessoas fiquem paradas. Então, a gente começa simplesmente falando "Vamos parar, vamos ficar parado, pode ser em pé, pode ser" "sentado, pode ser ajoelhado." Às vezes pode ser com uma sugestão de alguma respiração, alguma contagem específica. Mas só de parar, eu percebo inúmeros benefícios porque a gente está constantemente em um movimento cerebral intenso e, às vezes, quando a gente para o corpo, esse movimento até aumenta mas por parar o corpo, quem sabe, outras coisas não começam a diminuir a velocidade, você consegue prestar um pouquinho mais de atenção ali. Tem uma dicotomia que eu costumo refletir sobre que é se os professores aqui são professores ou são treinadores. São educadores, eu prefiro essa palavra. Eu acho que para ensinar movimento nessa perspectiva mais ampla da nossa escola, a gente precisa ser antes de tudo um educador. Eu lembro que lá no meu tempo de faculdade de educação física, um dos professores falou assim "Parem de se chamar de educador" "físico, vocês não são educadores, vocês são treinadores, vocês estão" "ensinando movimentos repetitivos mecânicos." Naquela época, eu não tinha tanta bagagem para refletir sobre isso, eu só sentia uma agonia, aquilo não me soou bem, aquilo desceu um pouco amargo, um pouco quadrado na minha garganta. Eu falei "Cara, mas eu queria ser educador." E depois de me desenvolver na prática, de conhecer essa cultura do movimento, de começar a ser um praticante e um professor, eu percebi que, sim, eu sou educador, eu preciso ser um educador aqui, eu não tenho escolha. Eu não estou aqui para que os alunos terceirizem uma necessidade para mim "Você está aí e" "vai me ensinar o movimento para mim, que estou aqui desse lado." Não, eu preciso educar, eu preciso mostrar a necessidade, mostrar a importância, dar as ferramentas. Se a gente está falando que a gente é isso tudo, todas essas modalidades que eu já citei no início do episódio, se a gente está falando isso tudo, como que a gente vai fornecer uma educação de qualidade, como que a gente vai passar isso para frente, sem diluir esse conhecimento, sem deixar ele vazar, sem fazer com que as pessoas percebam a importância de tudo isso. Você só pode ser um bom educador, você precisa ser um bom educador, você tem a necessidade de ser um bom educador e um bom educador quer, citando Paulo Freire, a emancipação do seu aluno, a educação para emancipação.
Então, é uma das minhas grandes missões aqui na Pratique Movimento. Lá, bem no início, foi algum professor, não lembro se foi um chefe na época que eu já trabalhei, porque eu já trabalhei no contexto de academia de musculação, na indústria Fitness também dentre vários outros aspectos da fisicalidade humana. Ele falou assim para mim "Mas você vai ensinar o aluno, ele vai ficar independente de você, ele" "vai voar." Que ele voe, que os alunos voem, que eles peguem o que faça sentido, incorporem na vida e levem para fora. E aí, a missão é cumprida aqui. Então, eu acho que a gente tem que educar para essa autonomia. Se realmente a gente está se chamando de escola, de universidade, a gente quer chegar a ser uma universidade, é isso que a gente está buscando aqui, essa autonomia das pessoas, essa autonomia dos alunos, essa conexão maior com o corpo que você vive. Uma vez, eu ouvi de um professor meu que o mundo não estava mais precisando de curso de formação de professores, estava precisando de curso de formação de alunos e isso é algo que a gente preza muito aqui na Pratique Movimento. A gente costuma dizer que a gente não está em busca de clientes, a gente está em busca de alunos, o cliente... Qual a diferença do cliente para o aluno? Resumindo aqui, cortando, picotando em apenas um ponto, o cliente recebe um serviço passivamente. Então, ele está pagando por uma coisa e ele se exime das obrigações. O aluno não, o aluno tem obrigações ativas e aqui é o que a gente está buscando, pessoas que vão buscar, que vão questionar, que vão atrás, que vão trazer dúvidas, que vão se esforçar para buscar aquilo, para digerir aquele conhecimento.
A gente diz muito aqui, é uma das frases de efeito mais fortes da escola Pratique Movimento, que é "Somos todos professores e somos todos alunos." Somos todos professores por que? Porque está todo mundo, o mundo está olhando para gente. A gente acha que não, às vezes , a gente acha que está escondido, que ninguém olha para a gente. "Eu não sou ninguém, não tem ninguém" "prestando atenção em mim." Sempre tem alguém prestando atenção na gente. Você está no mercado fazendo compras, tem alguém prestando atenção em você. Você está dirigindo, parado no sinal vermelho, tem alguém prestando atenção em você. Então, você é professor, você é professor dos seus pares, dos seus filhos, dos seus pais. Você é professor do seu cachorro, o que seja, mas você é professor. E todos somos alunos. Aqui na Pratique, a gente trabalha muito com trabalho em dupla, a gente divide muito em dupla, em trio, em grupo, a gente trabalha em comunidade e, várias vezes, um dos dois dessa dupla precisa assumir um papel ativo de professor e ele precisa saber como se portar como professor. Como que é em uma atividade se você já está mais à frente na caminhada e aquela pessoa está fazendo aquilo pela primeira vez? O que será que é mais potente, você olhar para ela, olhar para aquele movimento e corrigir cinco coisas que ela está fazendo errado "Olha, você está deixando a lombar cair e a sua mão está" "entrando no chão de modo errado, você está olhando para dentro do corpo" "ao invés de para fora, você está deixando o pé tocar no chão ali e a sua" "mão está um pouquinho tensionada." Você acha que ele vai conseguir absorver quanto dessa informação se ele já está se esforçando para caramba para fazer aquilo? Então eu falo "Vai dar uma dica, dá uma, escolhe" "uma, escolhe a que você julga mais potente e fala aquilo para aquela" "pessoa.
Quando ela instalar aquela dica, aí sim, você vai para a próxima." Outra coisa que eu costumo dizer para os alunos para eles aprenderem a ter um papel ativo e potente como parceiros. "Tentem usar 80% da taxa de" "sucesso." Isso eu aprendi no meu primeiro workshop MovementX com a Odelia Goldschmidt e o John Sapinoso, que são dois dos alunos mais antigos do Ido Portal. Tenta manter essa taxa de 80% de sucesso, não menos do que é isso. Menos do que isso talvez seja mais fácil o aluno, o seu parceiro, chegar naquele momento de frustração. "Cara, mas eu estou" "errando demais. De todas as vezes que você está jogando esse bastão para" "eu pegar, a cada dez vezes eu estou pegando duas, três." Então, 20, 30% de taxa de sucesso. Talvez isso frustre, isso traga uma frustração muito grande. Ou o contrário, 100%, a cada dez vezes que você joga esse bastão, o aluno pega dez vezes, 100% de taxa de sucesso. Isso desistimula para a maioria das pessoas. "Ah, já cheguei lá, não preciso mais disso." Então, em algumas atividades, não todas porque vai depender, a gente tenta manter esse 80% de taxa de sucesso. Outro aspecto que dá mais corpo a essa afirmação de que todos somos professores e todos somos alunos é que, por exemplo, ao fazer uma atividade sozinho, talvez você não se coloque em situações que te desafiam tanto. Eu costumo dizer em tom de brincadeira que um bom parceiro é babaca na medida certa. Babaca no sentido de te botar em uma situação que você não queria, botar você para botar a mão naquele lugar que exige uma mobilidade que talvez você não chegaria lá sozinho.
Então, o parceiro precisa ter essa sensibilidade também de até quanto eu vou puxar esse meu aluno por esse momento, porque naquele momento que você está fazendo um trabalho em dupla, o outro é o seu aluno, você está no papel de professor. Então, você precisa desafiar na medida certa. Além do que, a gente só se desenvolve em comunidade, a gente só se desenvolve em grupo. Aquela velha lenda do mestre que foi para montanha e passou trinta anos lá é uma bela de uma lenda e, às vezes, ele vai treinar artes marciais. Pode treinar, cara, trinta anos lá sozinho porque durante trinta anos o cara que você vai lutar depois desses trinta anos vai ter passado trinta anos com outras pessoas sendo desafiado, se beneficiando do conhecimento coletivo e não apenas do conhecimento individual. Ou seja, a gente se desenvolve em grupo, a gente se desenvolve em comunidade, uma comum-unidade, que é outra palavra carro-chefe da escola Pratique Movimento. Nós somos uma comunidade de pessoas que são apaixonadas por movimento, por desafios, por evolução e por descoberta. Então, é um ambiente que junta muitas pessoas interessantes. É impressionante como, às vezes, eu estou dando aula ali na frente e eu olho a galera e eu falo "Caramba, será que aquela" "pessoa ali sabe que do lado dela tem um cara que tem pós-doutorado em" "física e que aquele cara que está do lado dela ali trabalha monitorando" "satélites da Nasa e que aquela pessoa ali é diplomata e aquele..." Sabe, todos esses exemplos que eu dei são verdadeiros, são pessoas daqui. Então, são pessoas muito interessantes, artistas, músicos, pessoas que têm projetos sociais lindíssimos, pessoas que têm seus hobbies, seus 'crafts'. Eu acho que hobby, às vezes, seja até muito pouco, eu gosto dessa palavra em inglês, 'craft', sabe, seus artesanatos, que dedicam sua vida a missões, fotógrafos de alto calibre, filmmakers, infinitas, infinitas possibilidades de ter uma carreira, de ter uma prática de vida fora daqui mas que se conecta com a prática de vida que a gente desenvolve, que a gente faz florescer aqui
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